Varíola: uma das doenças mais mortais num canaril.

Não se sabe com exatidão quais são os animais que transmitem esta doença aos nossos canários. É uma questão de insetos que se alimentam de sangue, como os mosquitos, mas os ratos também podem ser. O vírus pode igualmente ser veiculado pelo ar. O que é certo é que o vírus só penetra no corpo da ave, por uma ferida, picadela de mosquito, bicadas dadas durante a muda, etc. Por estas razões a varíola aparece sobretudo: Durante a muda porque as aves estão fatigadas e as partes do corpo desnudadas são um terreno favorável às feridas cutâneas, por onde penetra o vírus. Em todos os canaris em geral aonde as aves tem uma resistência menor por causas várias: fadiga, má nutrição, aves já doentes ou infestadas.A grande maioria dos agentes responsáveis pelas doenças quer sejam micróbios ou vírus, são específicos da espécie que eles contaminam. Isto quer dizer que o vírus que origina uma doença num animal só é perigoso para os animais da mesma espécie. Um exemplo: Os cães podem ter hepatites virais, mas se injetar a um homem o vírus responsável pela hepatite do cão, a doença não se desenvolvera no homem. Isto contraria as pessoas que crêem que o contacto de animais com eles ou filhos, pode ser contagioso de doenças que estes portem com exceção da psitacose. Esta barreira não é só entre animais e o homem, mas ela existe também entre animais de espécies diferentes, assim existem: a varíola do pombo (borreliota columbae) B.C.; a varíola da galinha (borreliota avium) B.A.; a varíola do canário (borreliota fringilidae) B.F.; Se injetar em um canário o vírus da varíola do pombo a doença grave não terá lugar no canário. Mas, é aqui aparece o conceito de portadores sãos, o canário guardará durante um certo tempo o vírus do pombo e se ele for posto um contacto com os pombos ele poderá transmitir o do vírus que ele porta e contaminar os pombos. É o que se chama um portador são. São geralmente estes portadores sãos que propagam as doenças contagiosas pois eles não são atingidos.Assim para toda a ave nova introduzida num canaril, deve-se pôr o problema da quarentena. A quarentena consiste em isolar as aves adquiridas num local diferente do local de criação e com um material que não estará mais em contacto com o do canaril normal. Depois de se ter tratado das aves em quarentena deve-se desinfectar as mãos com álcool a 90° antes de ocupar do seu próprio canaril. Para os canários esta quarentena pode-se limitar a um mês. Se a utilidade da quarentena não é discutível porque ela é válida para todas as doenças, não há duvida que o melhor meio de prevenção das epidemias da varíola é a vacinação.Uma vacina é constituída por vírus ou micróbios, que sejam mortos, quer sejam de virulência atenuada, quer sejam não virulentas (os vírus ou micróbios da vacina são os mesmos da doença contra a qual se vacina). A vacina antivariólica que se utiliza para os canários contém o vírus da varíola do canário de virulência atenuada por 400 passagens sobre culturas de tecidos: fibroblastos de galinha. Esta vacina protege durante um ano. O que é importante do ponto de vista prático é que as vacinas são totalmente inofensivas, Mas elas dão origem nos organismos as mesmas reações que oferecia a doença grave. Por outro lado, uma ave atacada de varíola não torna grave ou atenuada, e tendo conseguido debelara doença sem necessidade de vacinação fica imunizada para sempre. Por fim uma ave vacinada não apresenta nenhum perigo se ela é introduzida num canaril aonde os animais não estão vacinados, pelo contrário. A varíola manifesta-se de duas maneiras: Forma aguda Forma crónica A forma aguda pode-se manifestar de duas maneiras: A forma cutânea: aparecem botões ou pústulas à volta dos olhos, na comissura do bico, patas. Estas pústulas contém um líquido purulento contendo os micróbios.À volta do olho estas pústulas podem supurar dando origem a uma conjuntivite e conseqüente perda da visão. A forma diftérica a forma mais grave. Não aparecem lesões cutâneas, mas lesões internas. No caso do autor destas linhas, a varíola que atingiu os canários localizou-se ao nível do pulmão. As aves em 24 horas morrem. Um macho canta hoje e no dia seguinte aparece abrindo e fechando o bico, cuspindo e engasgando-se com grande dificuldade de respiração, embola e à tarde está morto. O diagnóstico desta mortalidade relativamente rápido não se pode fazer a não ser por autópsia, e só muito dificilmente se pode fazer pela observação de pústulas no interior do bico e da garganta das aves. A única forma de salvação mesmo em canaril atingido é a vacinação.A vacina é condicionada em pequenos frascos com uma dose para 50 canários mas ela dá para 100 ou mesmo 150 canários. Como proceder: - Quando recebera vacina até a sua utilização deve ser guardada no frigorífico a uma temperatura de + 4° C. Quando se deve vacinar:- Conheço criadores que vacinam as aves no ninho, eu mesmo já pratiquei, creio no entanto, que os filhotes até aos 60 dias estão naturalmente imunizados. O fabricante da vacina aconselha na idade de 3 meses. Em Portugal eu vacino no princípio de setembro, fim da muda dos canários. No Brasil devem ser vacinados Março Abril. Tanto os jovens como os adultos devem ser vacinados. Não devem ser vacinados as aves que não estão em forma ou doentes, e vacinar no prazo mínimo de um mês antes de juntar para reprodução, os canários. Durante 8 dias antes de vacinar, adiciona-se diariamente vitaminas na água de bebida. No dia da vacinação é difícil de operar sozinho, deve-se pedir a ajuda de um amigo para segurar os canários. Para preparar a vacina mistura-se os dois frascos: um contém pó (vírus liofilizado), e o outro o solvente: vira-se o liquido no frasco que contém o pó, agita-se ate que o pó fique muito bem solvido no liquido. Para vacinar utiliza-se agulhas intra-cranianas, com 5/10° de milímetro de diâmetro e 16 milímetros de comprimento.Como se vacina? Segura-se o canário de ventre para cima (pernas para cima), abre-se a asa do canário, estendendo-a, sopra-se ficando a descoberto a membrana alar. Molha-se a agulha na vacina, pica-se a membrana perpendicularmente, tendo o cuidado de não tocar as penas, para que a mini-gota não fique nas penas, não picando evidentemente nenhum osso ou músculo. A operação deve ser repetida uma segunda vez num ponto diferente da primeira picadela. Chama-se esta operação dupla transfixação da membrana alar. Para melhor facilidade de reconhecer se a vacina "pegou" vacinar na mesma asa todas as aves. Nos 3 dias a seguir à vacinação, juntar na água de bebida vitaminas mais sulfamidas. Do 4° ao oitavo dia, juntar só vitaminas na água de bebida. Ao fim dos 8 dias deve-se observar se a reação à vacina foi positiva: há então a presença de pequenos botões rosados avermelhados no local das picadelas. Se não houver reação a vacina, deve-se considerar três hipóteses: vacinação malfeita (vacina retida nas penas); vacinação não formada, canário refratário à vacina (raro); canário já atingido de varíola.Para os dois primeiros casos, tornara fazer uma vacinação até um resultado positivo. O que se deve fazer em caso de varíola num canaril Isolar imediatamente os sujeitos atingidos. Não encontrei nenhum tratamento curativo Devem morrer. Vacinar imediatamente as aves que aparecem sãos, mudando de agulha ou esterilizando (álcool 90°, ou água fervente entre cada ave). Mas atenção: a vacina é um preventivo, não é curativo. No entanto cheguei a conclusão que a única cura em sujeito em principio de contaminação é a própria vacina. Depois da epidemia as aves que sobreviveram, ficarão imunizadas contra a doença mas o vírus está presente por todo o lado, gaiolas, material, canaril. O vírus pode ficar ainda uns três meses no local, ou mais. Deve-se procedera desinfecção do canaril e utensílios. Ferver formol no local fechado: faz-se ferver formol à razão de 20mL/m3 do local. Atenção, o vapor de formol é altamente tóxico. Ao fim de 24 horas abrir portas e janelas, cuidado ao entrar no canaril, não respirar, deixar estes uns dias a perder o odor. A varíola, flagelo atual dos canaricultores, pode-se resolver rapidamente nos próximos anos se cada criador quiser tomar as suas precauções e gastar algum pouquíssimo dinheiro na vacina. Mas mais do que isso, o sossego a tranquilidade com que se fica sabendo-se que as aves estão protegidas contra esta doença. Sei em o que se passou com amigos e comigo mesmo, por isso vacinem para nunca saberem o que é este flagelo tão na moda. Todos os nossos esforços juntos vencerão esta tão odiosa doença.

Por Carlos Moya Nunes da Silva 

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